Sonetos Prates


Soneto Prates é uma modalidade de soneto criada pelo escritor Elder Prates, na qual os 14 versos - típicos de um soneto - são divididos em 2 estrofes com 7 versos cada. 






" FICA "


Sou tão nada sem ti; fica...

Desista da loucura de partir.

Comecemos uma nova história, rica.
Onde o constante seja o sorrir.
Sem ti minha vida é uma nica.
Não há horizonte ao meu seguir.
Desfaça as malas; fica...

Ficaremos sem brigas, felizes.
Sem disputas ou acusações.
Juntos num viver em flores.
Num real jardim com menos ilusões.
A colher suspiros e ardores.
Suores contentes de dois corações.
Sem intrigas e lágrimas; felizes...






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" MINHA LINDEZA "

Por ti aflito está meu coração.
A sofrer com vagarosos pulsares.
Noutros braços só encontro ilusão.
Uma aparência em quaisquer ares.
Só prazeres efêmeros à paixão.
Com uns poucos momentos salutares.
Que acalento ao meu peito não dão.

Oh alma que falta-me, apareça.
Fulgure meu ser que hoje fenece.
Eu já não sou senão todo tristeza.
De joelhos a fazer minhas preces...
Sigo vazio sem a minha lindeza.
Numa pobreza que ninguém merece.
Sem de você ter alguma, certeza...





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" ESCOLHAS "

No externo não há o feliz.
Seja grana, fama ou poder.
E aquele que o contrário diz.
Do efêmero deve escravo ser.
Um algemado por que quis.
Que não soube escolher.
E a alma amarrou, no infeliz.

Não buscamos por vezes o simples.
Embora o interno dite o certo.
Escolhemos o vil, os prazeres.
E assim vivemos no inferno.
Entregamos o corpo aos revezes.
Porque a alma ficou no incerto.
Entre o bem e o mal, por vezes.



Texto: Elder Prates.







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Cor-de-rosa "

Bela rosa, tão formosa.
Singelo existir que encanta.
Em você, um cor-de-rosa.
A inspirar o poeta que canta.
Seja em verso ou em prosa.
Teu magnífico sempre me encanta.
E ao final, teu rosa...

Aaaa, rosa... Teu delicado...
Teu perfume a inebriar.
Faz de um momento um todo adornado.
De você um indizível exemplar...
Teus espinhos são como soldados.
E você no alto a reinar.
Me deixa assim, admirado...






" VOLTE "

Enleve-me com teu surgir de repente.
Faça minh'alma sorrir, vibrar.
Traga-me sonhos lindos, contentes.
Desfaça a angústia a me afogar.
Dias tristes e penitentes.
Um vazio de ti que tarda a acabar.
A me ferir, insistente...

Mas crente sou ao teu voltar.
Apesar de achar meio difícil.
E nesse feliz eu não paro de pensar.
Pois sei que é possível;
Ao amor não há o apagar.
Às vezes apenas o indizível.
Por isso acredito, no teu voltar...



Texto: Elder Prates.




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" SECO ESTOU "

No indizível himmel¹, salpicado de luzes.
Busquei você, madame²...
Já não sei quantas vezes.
Mas lá não encontrei, teu nome...
Só queria vê-la, fazer as pazes.
Pedir-lhe um beijo e que outra vez me ame.
Para voltarmos a ser, felizes...

Já não tenho lágrimas, minh'alma secou.
Tua ausência minou o meu ser.
Só a tristeza me restou.
E os frutos dela que ei de colher.
O vazio de você é o que hoje sou.
E só espero não morrer.
Já não tenho lágrimas, seco estou...


1 - HIMMEL: céu, em alemão.
2 - MADAME: minha senhora, em francês.




Texto: Elder Prates.






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" ONTEM, NO MONTE "

Sentado ontem, lá no monte.
O mais belo poente eu vi.
Lilases pairavam, silentes.
E até a consciência perdi.
Entreguei-me ao presente.
O sublime senti.
Ontem, lá no monte...

A ninguém restou nada.
Eu estava sozinho.
Não registrei a bela cena.
Não fiz um poemazinho.
Hoje tudo é memória.
O que a mim lá no monte foi lindo.
E a vocês que não viram, história...



Texto e foto: Elder Prates.






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Sê feliz!

Sê feliz! Mereces o belo do mundo.
Sem brumas ou tortuosos caminhos.
Somente o sublime, o êxtase mais profundo.
Diga adeus às lágrimas e aos espinhos.
Deixe o mesquinho para trás moribundo...
O fecundo te espera... Abra um vinho.
Enlouqueça um pouquinho; por um segundo...

Vá ao fundo! Seque o barril...
Não viva uma vida de parcelas.
Limpe as sequelas e aproveite o estio.
Ignore as más línguas e querelas.
Preencha o escuro... O vazio...
Faça da vida a sua passarela.
E se não brilhar... Ao início...



Texto: Elder Prates.






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" NA NOITE "

Na noite, há o mágico e o ininteligível.
As brumas encantam, escondem...
Somos gravetos nas sombras desse incrível.
E quando pensamos, foi ontem...
Não há retorno possível.
Porém um belo na lembrança sempre vem.
Fica o doce, do aparente horrível.

Vem o dia, e a noite outra vez.
A nos jogar nos braços de Morfeu.
Não dá para correr, nem contar até dez.
Não se sabe o escolhido, nem quem escolheu.
O suar da nudez; um pouco de estupidez...
Mas que fique o apogeu.
Do que na noite, se fez...







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" SIMPLES "

Simplório nem sempre predica o simples.
Temos mania de sofisticado.
Etiquetas e padrões vêm antes.
Sem ao menos termos degustado.
E com isso vivemos infelizes.
Pois julgamos o dado antes do dado.
Ao confundirmos simplório, com o que é simples...

Vezes por vezes somos enganados.
Pois queremos enxergar sem ver.
E quando vemos não enxergamos.
Se o luxuoso lá não estiver.
O simples geralmente é velado.
Não é para um qualquer.
Só àqueles que percebem; que forem tocados.



Texto e foto: Elder Prates.






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" TEMPO "


Sou flamejante, o limite do criado.
Mas eu não sou estado, sou sempre.
Sou aliado do calmo, um fardo do atrasado.
Mas eu prendo, determino, embora eu seja livre.
Mambembe aquele que em mim estiver amarrado.
O passado é o seu futuro, o seu destino torpe.
Pois se estiver em mim, estará condenado...

Sou fluido, um movimento constante.
Não sou palpável, não sou controlável.
Sou apenas um pulso, apenas instante.
Não obstante sou sempre, estável.
Sou inviolável, e do fim um brado retumbante.
Incessante rumar inegável... Abominável.
Inesgotável tic-tac, apavorante...








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" VAZIO "

Iletrado fizeram-me, para que eu não grite.
Cegaram o meu discernimento.
Dão-me gols, mídias fúteis para que eu vibre.
Entretenimento medíocre a ditar meu comportamento.
Argumento eu não tenho, nem sequer um palpite.
A elite me esconde, sou um mudo a viver no isolamento.
Numa ignorância hermética, para que eu não grite.

Não tenho estudo, não tenho mundo, só projeções.
Ditam-me o certo, a moda, meu caráter.
Logo-logo me darão rações, em porções.
E dirão enfaticamente que é pro meu crescer.
Quem sabe um crescer forte, anabolizado de injeções.
Para que assim eu seja e possa aparecer.
Num mundo vazio, sem direção, de ambições...








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" EPITÁFIO "

Que saudade dos lábios que não senti.
Das mãos que atei aos abraços que queriam se abrir.
Dos precipícios que não saltei, tremi.
Que vontade de outra vez sorrir, pedir, fugir.
Aaaaa se eu pudesse um pouco mais...
Ou quem sabe diferente.
Mas é tarde pra voltar atrás...

Jaz... Tudo em mim hoje jaz.
Meu corpo, meus sonhos, tudo!
Hoje sou terra, coberto por flores.
Sem se quer uma imagem, uma visita, sem futuro.
Ontem vigor, riqueza e valores...
Agora raízes e restos, o escuro.
E do sopro da vida, restou-me vapores...










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" DÚVIDA "

O precipício me chama... Olho para trás...
Vejo o trem partindo e minha razão indo.
Não sei se entrego-me ao sublime, ou um pouco mais.
Jaz o que mantinha-me sorrindo.
Em frente ou voltar atrás?
Não sei... Há tempos que definho.
E não defino ou encontro o que me traz a Paz...

Quem sabe um acalento, o pulo, um colo...
Um solo novo em que eu possa pisar sem temer.
Correr como um menino sem dolo.
Consolo que traga-me o arder, o viver...
Fazer-me outro, novo, um símbolo.
Apolo me toca e não sei o que dizer, fazer.
Já não sei se sou bobo, morto, ou frívolo...








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" O CRÍTICO "

Abandone a pena se falta-lhe Bandeira.
Poesia não é fantasia... É cuspir...
O fremir das letras não tem maneira.
É o bradar do ventre, deixar fluir.
Esqueça das regras e das rimas grosseiras.
Deixe eclodir o que lhe faz sentir.
Ponha em palavras tu’alma, bandeiras...

Da eira, da beira... Não importa do que vai dizer.
Mas diga com força, com delicadeza...
Faça sonhar... Faça tremer...
Mesmo que cause estranheza.
A nobreza está na sutileza do fazer.
No tecer dos versos com poder e lindeza.
Destreza que cabe ao poeta, ao escrever...








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" PRA SEMPRE COMIGO "

Bastantes vezes eu corri a ti.
Que não foram tantas pra trazê-la a mim.
Incessantes clamores, mas enfim parti.
Pois nem tudo são flores, nem tudo é carmim.
Aaaa meu jasmim... Meu colibri...
Já não encantarás o meu jardim.
Pois enfim parti, pra longe de ti.

Parti porque sem ti eu não consigo.
Vejo-a em tudo, em todos.
Vivo comigo no escuro, em castigo.
Num jazigo de cacos, de destroços...
Sigo triste e sonhando contigo.
E pra sempre a porei nos versos.
Pois ao menos assim, estarás comigo...







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" CRACK "

O flutuar traz instantes felizes.
Na brisa louca da pedra inflamada.
Maquilar de traumas, de dores.
Uma efêmera emoção que torna-se morada.
Da qual não se sai ileso, sem cicatrizes.
Muitas vezes a própria cova cavada.
Senda negra e pedregosa, que de início parecia flores...

O Estado cega-se, a polícia varre.
Como lixos humanos a esconder.
Ninguém acolhe, ninguém liga pro que morre.
É mais fácil pisar ao invés de resolver.
Estender a mão é difícil, ainda mais a quem está de porre.
Uma endemia cada dia a se estender.
E quando a droga acaba, é aquele corre-corre...








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" Aaaa, o Amor "

Tentei falar de amor, mas vi que é impossível.
Pois ele mesmo é contrário consigo.
Ora é dor... Às vezes indescritível.
Pulando de lágrima a riso.
Cortando e preenchendo, incrível...
Sensível e horrível sentimento impreciso.
Liso piso muitas vezes terrível... Noutras invencível...

Aaaa, o amor... Que ardor sublime que ele traz.
Faz de nós os mais santos, os mais insanos.
Um tirano que nos tira a paz.
Capaz de salvar-nos ou causar-nos danos.
Profano... Gostoso... Às vezes contumaz.
E não importa que seja engano...
Pois sempre o queremos... Mesmo fugaz...







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" SONHO... POESIA... "

Tudo era lindo, muito mais brilhante.
O feliz estava sempre presente.
Um viver mágico, num estar radiante.
Sem haver dor ou mal no ambiente.
Nos olhares, ternura; os sorrisos vibrantes.
Corações muito mais prudentes.
Instante bastante fulgurante, distante...

Que vivi em vigília, ou enquanto dormia.
Isso eu não sei... Só sei que era belo.
O degelo de um peito que morria.
Conto louco no mais lindo castelo.
Singelo encanto a tirar-me da agonia.
Da miséria que eu vivia, do flagelo...
Embora fosse apenas sonho, poesia...







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" PÉROLA NEGRA "

É fato que fora a mais graciosa.
Pérola negra dentre outros colares.
No campo de idas e vindas a mais bela rosa.
O mais doce aroma pairado nos ares.
Fora terna... E também formosa...
Arrancou-me suspiros aos milhares.
Inaudita nos versos, ou na mais linda prosa...

Fomos risos, amigos, um belo casal.
Rasgamos pudores em momentos ferventes.
Deixamos de lado o insosso, e também o banal.
Fomos brisa e tempestade ardente.
Preciosa... Aurora que jamais em meu céu houve igual.
Um divino presente, que fez-me contente.
Preencheu-me total, num surreal...








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" QUANTA FALTA VOCÊ FAZ "

Sinto-a em cada toque, em cada ósculo.
Já não há mais belo sem você ao lado.
Fardo insosso que carrego, num vagar ridículo.
Cubículo de dor e saudade, desventurado.
Um desconsolado a viver num casulo.
Sem desejo, sem vontade e desmantelado.
Um desgraçado a colher o que plantou, até o túmulo...

Aaaaa, quanta falta você me faz...
Paz que não tenho, que não mais terei.
Eu sei... Sei que o que o vivemos hoje jaz.
Mas, para sempre contigo eu sonharei.
Lembrarei do quanto nós sorrimos, assaz.
Voraz amor que perdi, que desprezei.
E hei de sofrer, até quando for capaz...







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" O PORQUÊ DOS MEUS SONHOS "

Fulgure sempre, querida, por favor...
Seja a mim um fervor eterno.
Terno manto que me cubra de amor.
Doce sabor que esteja perto.
Mantenha-me vivo com teu suor.
Cristalinos lençóis do meu deserto.
A mim seja tudo, o meu esplendor...

És o porquê dos meus sonhos, do meu suspirar.
A razão do brilhar de meus dias.
A essência que mantém o meu pulsar.
Que me traz dos simples, alegrias...
És encanto que sequer pude imaginar.
Nem mesmo nas mais doidas fantasias.
És um anjo, que a mim veio alumiar.





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" DESCULPE-ME, QUERIDA "

Sangra a saudade de ti, mas... Paciência...
Pra toda causa existe uma sentença.
E nem sempre o destino nos brinda com clemência.
Restando-me apenas, uma solitária doença.
O aperto doloroso que ocupou a tua ausência.
Penitência merecida à minha indiferença.
Recompensa a uma decisão idiota, a carência...

Machuquei-a, mas não foi premeditado.
Embora eu tenha certeza de que doeu.
Desculpe-me, querida, por ter me precipitado.
Você era tudo pra mim, meu coliseu.
O meu amparo, e do meu viver o significado.
Mas eu tolo errei, e somente eu...
Que fiz do belo profetizado, despedaçado...





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" UM MOTIVO "

Quero um motivo apenas, para um novo sorrir.
Dose de alegria que me afaste a dor.
Seja amor ou mecenas, mas que venha me nutrir.
Overdose de magia que me traga ardor.
Com sabor de sempre, pra fazer-me explodir.
Eclodir de uma agonia sem valor.
Torpor ao qual levei meu ser, sem sentir...

Ri dos pulsares que me traziam temor.
Lutei comigo numa guerra calma.
Dia a dia fui autor do meu doer, do meu pavor.
Já tentei despir meu eu, mas nada me acalma.
Pouco a pouco foi minguando meu vigor.
Ao tapar meus ouvidos pros gritos da alma.
Pois mentir pra mim, foi meu erro maior...





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" SOFRIDO MUNDO "

Manchas negras colorem os mares.
Tinto em cinza está o azul celeste.
Não há aromas pairando nos ares.
É triste... Como qualquer peste.
Não há harmonia ou ternura nos lares.
Corrompido está o leste, o oeste...
Incontestes desprezos que tornamos... Populares.

Milhares são os porcos, os indiferentes.
Florescente está o mal, já faz tempo...
Contratempo a extirparmos, rapidamente.
Pois o mundo está sofrendo, ao relento.
Esquecido por nós, morrendo silente.
Em latente degenerar cruento.
Violento agredir por nós, indecentes...





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" Não me peça pra parar de lhe amar "

Negue-me o êxtase, a reciprocidade.
A felicidade de tê-la ao meu lado.
Impeça-me de sorrir, despreze minha sensibilidade.
Preencha de sombras meus sonhos dourados.
Faça-me sofrer, destrua minha docilidade.
Transforme-me cada vez mais num ser acabado.
Num carente de luz, de vivacidade...

Ria de mim, de meu pútrido e solitário caminhar.
Pise nos meus quereres, no que me traz sentido.
Não me importa, rendido estou com meu eterno chorar.
O sangrar sem cessar de um coração ferido.
Fuja pra longe, pra onde eu não possa lhe encontrar.
Xingue-me de tudo, inclusive de pérfido bandido.
Só não me peça que eu pare, de lhe amar...





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" VÃ BUSCA POR TI "

Enlacei-me em corpos, deleitei-me em lábios.
Vão buscar pela essência que lhe pertence.
Cri em búzios, ouvi presságios.
Não achei fervores que me acalente.
Imergi em vales, já paguei pedágios.
Frágil estou como um penitente.
Nau furada esperando, o naufrágio...

Sou candeia sem luz, céu sem poente.
Um doente querendo remédio.
Sou enfermo de angústia latente.
Gemente tomado por tédio.
Sou violão sem repente.
Artista sem palmas, moedas, assédio.
Sem você sou carente... Somente...





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" Última Carta "

Não quero mais flores, regadas com dores.
Já cansei dos teus socos, do seu terror.
Parti... Vou em busca de ardores.
De um homem que dê-me valor.
Sou mulher, humana, não só objeto de prazeres.
Tenho sonhos, e por mim tenho amor.
Por isso parti... Não quero mais flores.

Você é um monstro, imerso em rancor.
Jamais foi homem, jamais foi marido.
Quase matou-me, trouxe-me temor.
Chorei por noites e noites, querido.
Por isso parti, e deixo-lhe este meu torpor.
Esta carta, este vômito de um peito ferido.
Meu último suspiro, cansei de pavor...






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